Prezado leitor, infelizmente uma nuvem de mistério paira sobre os primeiros anos da existência política de nosso município. Como sabemos Boa Viagem recebeu a sua autonomia política em 21 de novembro de 1864 e não temos conhecimento de quem o administrou desta data até o ano de 1895, são 31 anos de completo silêncio.
Sobre este assunto podemos construir algumas questões: O que ocorreu neste período? Como vivia o nosso povo? O que significou a conquista desta autonomia para as 1.279 pessoas que residiam em nossa sede? Qual a importância política e econômica de nossa pequena vila para a Província do Ceará? Não era mais vantajoso para nossa vila continuar a pertencer à tutela do poderoso
Quixeramobim?
Que força política nossa pequena vila possuía para alcançar esse intento, haja vista Boa Viagem não possuir nenhum coronel de prestígio e o Município do Quixeramobim ser o centro das decisões políticas de nossa região? Houve um preço a se pagar para obter esta conquista, qual foi? Quem o pagou? Quem mobilizou o sentimento do povo? Quem convenceu ao nosso Imperador, D. Pedro II, a nos dar esta valiosa conquista?
São muitas as dúvidas que povoam a nossa mente sobre este evento. Podemos concluir, inclusive, que tudo o que falarmos sobre esta época não passa de meras conjecturas. As respostas destas dúvidas infelizmente foram sepultadas com aqueles que nos precederam. Não possuímos registros em diários ou cartas que satisfaçam a nossa curiosidade. A população de nosso município se conformou em acreditar simplesmente em sua formação romântica. Existe pouca ou nenhuma reflexão sobre este tema!
Sobre os primeiros anos da formação de nossa vila podemos construir várias hipóteses. Uma delas está fincada na importância da capela construída por Antônio Domingues Álvares e Agostinha Sanches de Carvalho.
Sabemos que, em qualquer comunidade interiorana, a construção de uma capela é de grande significado para a sua população. Essa capela serve como ponto de referência para aqueles que não conhecem a região e de orgulho para os moradores de suas proximidades que a freqüentam.
A capela se constitui em um ponto de encontro das pessoas que muitas vezes demoram a se ver, local onde se fica a par das novidades dos grandes centros e das fofocas da localidade. A pequena igreja é a praça dos flertes dos jovens e da demonstração de devoção dos mais velhos.
Aos poucos algumas pequenas casas foram sendo construídas no entorno desta capela que logo recebe suas primeiras ampliações para melhor acomodar seu povo e não demora muito a ter um pároco residente. As casas soltas logo formaram uma pequena vila, com um comércio que aos poucos atraiam os sertanejos que moravam em suas proximidades.
Para essa pequena vila vieram residir, depois de muito tempo, boticários, mesinheiras, parteiras, ferreiros, professores, advogados e uma série de profissionais liberais que são necessários ao progresso de uma inexpressiva vila.
Quando falamos desta misteriosa época com os mais velhos eles sempre nos contam, que ouviram falar de seus pais, da acirrada disputa que havia entre os membros da família Maciel, do Quixeramobim, e os Araújo, nossos conterrâneos.
Qual o motivo dessa rixa? Quantas vidas foram ceifadas por esta contenda? Como foi resolvida? O que eles nos deixam de concreto é que nossos primeiros anos como município foi marcado por um enorme derramamento de sangue e de muita violência.
O pouco conhecimento que temos dessa época é fruto do descaso de seus contemporâneos e da pouquíssima quantidade de pessoas que sabiam escrever. Embora improvável não podemos desprezar a possibilidade que possam existir registros espalhados no fundo das gavetas de escrivaninhas ou no fundo de baús que estão esquecidos ou desprezados e que se constituem em uma valiosa herança que conta sobre esses 31 anos de silêncio de nossa história.
Esperamos que em breve o nosso passado comece a vir à luz. Acreditamos que a quantidade de pessoas que estão sendo formadas nos cursos de história, em nosso município, fomente a curiosidade no povo pela pesquisa e o registro de fatos que foram esquecidos pelo tempo.
F - Nem Ki Lssk
e La na Esquina :
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