Por Raymond Colitt
BRASÍLIA (Reuters) -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o Brasil nesta semana sob os holofotes mundiais, com sua atuação decisiva na mediação de um polêmico acordo de intercâmbio de material nuclear do Irã. Mas Lula pode ter irritado os Estados Unidos e outros aliados poderosos com esse acordo, semelhante a um plano anterior da Organização das Nações Unidas (ONU) destinado a impedir que o Irã desenvolva as condições para produzir uma arma nuclear.
"Eu acho que a diplomacia sai vencedora hoje", disse Lula no seu programa de rádio "Café com o Presidente," um dia depois de obter do Irã o compromisso de que o país enviará ao exterior parte do seu estoque de urânio baixamente enriquecido para, em troca, receber combustível para um reator nuclear de pesquisas médicas. Algumas influentes nações ocidentais, junto com Rússia e China, parecem dispostas a recusar o acordo no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, a pedido de Washington, que continua negociando uma quarta rodada de sanções à República Islâmica. O Brasil, como uma potência global e regional em ascensão, corre o risco de parecer ingênuo ou, pior ainda, cúmplice das ambições nucleares iranianas, caso Teerã continue violando resoluções do Conselho de Segurança e relute em aceitar inspeções internacionais. "O Brasil ajudou o Irã a voltar à mesa de negociação, e isso é claramente positivo -- Lula pode reivindicar crédito por isso," disse Alcides Costa Vaz, vice-diretor do Instituto de Relações Exteriores da Universidade de Brasília. "Mas é uma aposta arriscada e frágil."
"Eu acho que a diplomacia sai vencedora hoje", disse Lula no seu programa de rádio "Café com o Presidente," um dia depois de obter do Irã o compromisso de que o país enviará ao exterior parte do seu estoque de urânio baixamente enriquecido para, em troca, receber combustível para um reator nuclear de pesquisas médicas. Algumas influentes nações ocidentais, junto com Rússia e China, parecem dispostas a recusar o acordo no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, a pedido de Washington, que continua negociando uma quarta rodada de sanções à República Islâmica. O Brasil, como uma potência global e regional em ascensão, corre o risco de parecer ingênuo ou, pior ainda, cúmplice das ambições nucleares iranianas, caso Teerã continue violando resoluções do Conselho de Segurança e relute em aceitar inspeções internacionais. "O Brasil ajudou o Irã a voltar à mesa de negociação, e isso é claramente positivo -- Lula pode reivindicar crédito por isso," disse Alcides Costa Vaz, vice-diretor do Instituto de Relações Exteriores da Universidade de Brasília. "Mas é uma aposta arriscada e frágil."
CILADAS
Mesmo antes do acordo assinado por Lula com os governos do Irã e da Turquia --que também agiu como mediadora--, Teerã já havia deixado claro que não pretendia abandonar suas atividades de enriquecimento de urânio. Potências ocidentais acusam o Irã de tentar desenvolver secretamente armas nucleares, embora a República Islâmica insista que sua intenção é apenas gerar eletricidade para fins civis. "Brasil e Turquia devem ser parabenizados por seus esforços, mas eles cometeram dois enormes enganos. Estão deixando o Irã com urânio enriquecido suficiente para construir uma bomba, e não asseguraram plenas inspeções internacionais", disse Robert Pasto, que foi assessor nacional de segurança dos EUA para temas latino-americanos no governo de Jimmy Carter. "Então a questão é se o Brasil desempenhou um papel construtivo ou se abalou o consenso internacional em torno do Irã," acrescentou Pastor, hoje professor da Universidade Americana, em Washington. O Brasil admite que o acordo é incompleto, mas insiste que ele abre espaço para mais diálogo. "Esse acordo não vai resolver todas as questões que existem na questão nuclear. Mas ele é o passaporte para que possa haver discussões mais amplas que criem a confiança na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, permita o Irã exercer o direito legítimo à energia nuclear para fins pacíficos, inclusive com enriquecimento", disse o chanceler Celso Amorim na segunda-feira. Lula está acostumado a negociações difíceis. Ele entrou para a política como sindicalista de oposição ao regime militar (1964-85), e participou ativamente da democratização do país. Nos seus mais de sete anos de governo, o Brasil tornou-se também um ator importante nas negociações comerciais e globais do mundo.
Mesmo antes do acordo assinado por Lula com os governos do Irã e da Turquia --que também agiu como mediadora--, Teerã já havia deixado claro que não pretendia abandonar suas atividades de enriquecimento de urânio. Potências ocidentais acusam o Irã de tentar desenvolver secretamente armas nucleares, embora a República Islâmica insista que sua intenção é apenas gerar eletricidade para fins civis. "Brasil e Turquia devem ser parabenizados por seus esforços, mas eles cometeram dois enormes enganos. Estão deixando o Irã com urânio enriquecido suficiente para construir uma bomba, e não asseguraram plenas inspeções internacionais", disse Robert Pasto, que foi assessor nacional de segurança dos EUA para temas latino-americanos no governo de Jimmy Carter. "Então a questão é se o Brasil desempenhou um papel construtivo ou se abalou o consenso internacional em torno do Irã," acrescentou Pastor, hoje professor da Universidade Americana, em Washington. O Brasil admite que o acordo é incompleto, mas insiste que ele abre espaço para mais diálogo. "Esse acordo não vai resolver todas as questões que existem na questão nuclear. Mas ele é o passaporte para que possa haver discussões mais amplas que criem a confiança na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, permita o Irã exercer o direito legítimo à energia nuclear para fins pacíficos, inclusive com enriquecimento", disse o chanceler Celso Amorim na segunda-feira. Lula está acostumado a negociações difíceis. Ele entrou para a política como sindicalista de oposição ao regime militar (1964-85), e participou ativamente da democratização do país. Nos seus mais de sete anos de governo, o Brasil tornou-se também um ator importante nas negociações comerciais e globais do mundo.
SANÇÕES
A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse na terça-feira a congressistas que as grandes potências, inclusive EUA, Rússia e China, concordaram com uma proposta de resolução, a ser votada pelo Conselho de Segurança da ONU, que instituiria uma quarta rodada de sanções ao Irã. O Brasil, membro não-permanente do Conselho, se opõe a novas sanções ao Irã. Amorim afirmou na terça-feira que o acordo com o Irã é compatível com aquilo que os governos ocidentais exigiam. Assessores do governo admitem que a diplomacia do governo Lula pode indispor o país com Washington a ponto de ameaçar a candidatura brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança. "O presidente Lula tem insistido em uma coisa: 'Sei que é uma aposta arriscada ter vindo (ao Irã), vai irritar alguns países e pode ameaçar a ambição de ampliar o Conselho de Segurança'", disse a jornalistas Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa do Palácio do Planalto, em Madri. Mas para Lula, que tem colhido elogios por sua defesa dos pobres e deseja apresentar o Brasil como uma potência não-alinhada, com voz independente, o risco pode valer a pena. Kevin Casas-Zamora, pesquisador-sênior do Instituto Brookings, de Washington, e ex-vice-presidente da Costa Rica, disse que a reforma do Conselho de Segurança é uma meta distante sob qualquer cenário, e que os EUA dependem demais do Brasil na América Latina, o que faria com que eventuais atritos se limitassem a uma reprimenda verbal. "O lado negativo para Lula é um atrito temporário com Washington e dar a impressão de que os iranianos lhe passaram a perna," disse ele. "O lado positivo é que eles (brasileiros) estão agora jogando na primeira divisão, o que o Brasil nunca fez antes."
A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse na terça-feira a congressistas que as grandes potências, inclusive EUA, Rússia e China, concordaram com uma proposta de resolução, a ser votada pelo Conselho de Segurança da ONU, que instituiria uma quarta rodada de sanções ao Irã. O Brasil, membro não-permanente do Conselho, se opõe a novas sanções ao Irã. Amorim afirmou na terça-feira que o acordo com o Irã é compatível com aquilo que os governos ocidentais exigiam. Assessores do governo admitem que a diplomacia do governo Lula pode indispor o país com Washington a ponto de ameaçar a candidatura brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança. "O presidente Lula tem insistido em uma coisa: 'Sei que é uma aposta arriscada ter vindo (ao Irã), vai irritar alguns países e pode ameaçar a ambição de ampliar o Conselho de Segurança'", disse a jornalistas Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa do Palácio do Planalto, em Madri. Mas para Lula, que tem colhido elogios por sua defesa dos pobres e deseja apresentar o Brasil como uma potência não-alinhada, com voz independente, o risco pode valer a pena. Kevin Casas-Zamora, pesquisador-sênior do Instituto Brookings, de Washington, e ex-vice-presidente da Costa Rica, disse que a reforma do Conselho de Segurança é uma meta distante sob qualquer cenário, e que os EUA dependem demais do Brasil na América Latina, o que faria com que eventuais atritos se limitassem a uma reprimenda verbal. "O lado negativo para Lula é um atrito temporário com Washington e dar a impressão de que os iranianos lhe passaram a perna," disse ele. "O lado positivo é que eles (brasileiros) estão agora jogando na primeira divisão, o que o Brasil nunca fez antes."
F - Nem Ki Lask :