Bastou apenas um dia depois da suspensão do movimento, e militares estão sendo transferidos para o Interior do Estado
Tropa cabisbaixa: revolta e insatisfação dominaram o efetivo do Choque , na noite passada, com as transferências-ALANA ANDRADE
Um dia após o fim da ´greve branca´ realizada por policiais militares da Capital e Região Metropolitana, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) iniciou uma retaliação contra os ´grevistas´. Pelo menos 32 PMs, entre oficiais e praças, foram sumariamente transferidos para o Interior do Estado, sem direito a qualquer explicação. Destes, 29 pertenciam ao Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), uma das unidades que apresentaram maior volume de adesão ao movimento por melhores salários e condições de trabalho.A medida foi oficializada no fim da tarde passada, quando o Comando da corporação publicou o Boletim do Comando Geral (BCG) de número 076, relativo ao dia 27/04/2010. Entre os PMs transferidos para o Interior figuram dois oficiais que vinham atuando firmemente no movimento em favor da tropa, os majores Adrianízio Paulo de Oliveira Alves, que exercia o comando do Presídio Militar; e Francisco Teófilo Gomes Costa, que atuava como supervisor no Comando do Policiamento da Capital (CPC).
Portas fechadas: o secretário da Segurança Pública, Roberto Monteiro, se reuniu, ontem, com o governador para tratar do assunto. O que ficou definido no encontro não foi revelado-KID JÚNIOR
BpChoque
Somente no BpChoque, foram transferidos 29 homens, sendo 20 soldados, cinco cabos e quatro sargentos. Da unidade de elite da Corporação, eles foram mandados para as companhias de cidades como Baturité, Campos Sales, Brejo Santo, Jaguaribe, Crateús, Iguatu, Tauá e Tianguá. Um soldado do Pelotão Raio foi remanejado para a 1ª Companhia do 6º BPM (Maraponga). Ontem à noite, o clima no BpChoque era de revolta. Alguns militares prometeram dar entrevistas hoje à Imprensa.
Além de batalhões e companhias do Interior do Estado, parte dos policiais punida foi mandada para unidades como a Companhia Provisória de Operações de Eventos (POE) ou para Guarda de Presídios.
Ouvido pela reportagem, o major PM Adrianízio Paulo Alves, classificou sua transferência para o 1º BPM (Russas) como uma "injustiça e retaliação´, pois, segundo ele, em novembro passado já havia sido transferido sumariamente da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) para o Presídio Militar, simplesmente por questionar o não pagamento de adicional noturno para os PMs que atuam durante toda a noite naquele órgão.
A transferência dos PMs para o Interior poderá provocar novos desdobramentos no movimento iniciado pelos militares no fim de semana passado, quando eles deflagraram a ´Operação ´Tolerância Zero´ e as mulheres dos praças fecharam o quartel do BpChoque. A SSPDS não comentou o fato.
NA CIOPS
Punições começaram contra sete operadores
Sete policiais militares, que trabalhavam como operadores de rádio na Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), foram os primeiros a serem punidos pela SSPDS desde o início do movimento ´Tolerância Zero´. Os sete militares agora estão respondendo a Inquérito Policial Militar (IPM) e a sindicância na Corregedoria Geral dos Órgãos da Segurança Pública (CGOSP), correndo o risco de serem expulsos da corporação definitivamente.
Os militares foram afastados das funções acusados de terem transmitido para as viaturas, através do terminal de computador (TMD), mensagens convocando os colegas de farda a participarem do movimento que busca a melhoria de salários para a tropa, além de redução da jornada de trabalho e a implantação de um plano de saúde.
Viaturas do Ronda foram vistas, ontem, circulando em toda a Capital-THIAGO GASPAR
Quartel
Os sete PMs foram transferidos para a Companhia de Comando e Serviço (CCS) do Quartel do Comando-Geral e agora, estão exercendo funções burocráticas e de guarda. Outros militares já foram destacados para substituir os operadores.
O Comando-Geral também mandou instaurar IPM para investigar o fato de dezenas de policiais terem apresentado atestado médico durante o Carnaval passado, saindo da escala de serviço em Beberibe.
EM BUSCA DE SOLUÇÕES
Autoridades se reúnem secretamente
A crise que atinge o setor da Segurança Pública do Estado do Ceará motivou a realização de duas reuniões durante todo o dia de ontem, e também teve reflexos na Assembleia Legislativa, onde o deputado estadual Heitor Férrer considerou que o sistema de Segurança implantado pelo governador Cid Gomes "simplesmente fracassou".
À tarde, o governador se reuniu com o secretário da Segurança Pública, Roberto Monteiro; e com os comandantes da Polícia Militar, coronel William Alves Rocha; e do Corpo de Bombeiros Militar, coronel João Vasconcelos Sousa.
O governo não revelou quais decisões foram tomadas no encontro, que durou horas e aconteceu a portas fechadas.
Discussão
O segundo diálogo aconteceu também à portas fechadas na Assembleia Legislativa. Dele participaram o deputado estadual Ivo Gomes (irmão do governador Cid Gomes) e representantes da categoria. A reunião havia sido anunciada no dia anterior durante a audiência realizada na Procuradoria Geral da Justiça (PGJ), quando foi discutida a questão da falta de curso especial para os motoristas de viaturas, conforme é previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e regulamentado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A reportagem tentou acompanhar a reunião na AL, mas uma assessora do deputado informou que os jornalistas não teriam acesso ao encontro e não seria permitida nem mesmo imagens da reunião.
Até por volta das 22h os telefones celulares dos representantes dos policiais militares, assim como o do deputado, estavam desligados, não sendo possível saber que decisões foram tomadas pelos participantes.
Na audiência realizada na última terça-feira na PGJ foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que o Governo do Estado se comprometeu a realizar, no prazo de 30 a 180 dias, o curso específico de segurança para os policiais e bombeiros que dirigem as caminhonetes Hilux.
Esta decisão fez os PMs retornarem ao trabalho de patrulhar as ruas da Grande Fortaleza nas viaturas Hilux.
NORMALIDADE
Viaturas voltam a patrulhar as ruas
Viaturas rondando pelas ruas com intermitentes ligados, policiais em seus postos desenvolvendo as atividades e um clima menos tenso nas companhias da Polícia Militar. Assim começou a manhã de ontem em Fortaleza, após o acordo firmado em reunião entre representantes da categoria e autoridades da Segurança Pública do Estado, além da procuradora-geral de Justiça, Socorro França.
"Ninguém está satisfeito. Nada foi conquistado de verdade, ainda", disse um soldado que patrulhava a área da 3ª Companhia do 5º BPM (Pirambu), responsável por 13 bairros em uma das áreas mais carentes da Capital cearense.
Naquela região, a equipe de reportagem cruzou com quatro viaturas fazendo patrulhamento urbano num espaço de 15 minutos. Duas eram da 3ª cia. do 5º BPM e as outras duas, do Ronda do Quarteirão. Na frente da Companhia, ao contrário dos dois dias anteriores, apenas uma viatura estava parada Na internet, o movimento denominado pelos militares de ´Tolerância Zero´, que tinha começado no último fim de semana, parecia estar voltando com força total, ontem pela manhã. Os PMs internautas - através do site de relacionamentos orkut - orientavam os colegas a aderirem novamente à operação.
Na ´Tolerância Zero´, a ordem é levar para a delegacia todo procedimento, por menor potencial ofensivo que seja. O objetivo é lotar as distritais e deixar as viaturas paradas na porta das DPs.
F - Nem Ki Lask :
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