Francês Sylvain Itte, que trabalha em São Paulo, viu drama pior do que a TV pôde mostrar.
A pior situação que um país conheceu nos tempos modernos fora de uma guerra. Com essas palavras, o cônsul-geral da França em São Paulo, Sylvain Itte, descreve a realidade do Haiti pouco mais de um mês após o terremoto de 12 de janeiro.
O tremor foi o mais violento em 200 anos, fez cidades inteiras virarem ruínas e matou pelo menos 217 mil haitianos, segundo o governo local. Situação que o cônsul compara à que viveu a Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Um único bombardeio aéreo destruiu 80% da cidade de Munique em 1943, e em Berlim as mulheres dos soldados mortos no front reconstruíram suas casas com os entulhos do que sobrou depois das bombas dos Aliados. Destruição e drama semelhantes, Itte viu em Porto Príncipe, onde até o palácio presidencial foi abaixo e milhares de corpos saíram das ruas para valas comuns.
O cônsul esteve entre os dias 5 e 10 deste mês para ajudar no esboço de um plano entre França e Brasil de reconstrução do Haiti. Voltou com o sentimento de que as imagens que aqui chegam não conseguem refletir o tamanho do drama haitiano. Diz que o que se vê em Porto Príncipe “é bem pior do que se pode ver na imprensa ou fotos de lá”.
Nesta quarta-feira (17), o presidente da França, Nicolas Sarkozy, visitou a ex-colônia francesa que se tornou a nação mais pobre das Américas, mesmo antes do tremor. Foi a primeira visita de um presidente francês ao Haiti.
Na próxima semana, é a vez do colega Luiz Inácio Lula da Silva visitar o país, para onde o Brasil já enviou milhares de militares desde 2004, quando passou a liderar a Minustah, a missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti. O cônsul diz que a proximidade das visitas “não é coincidência”,
Em entrevista exclusiva ao R7, concedida antes de o presidente francês anunciar uma ajuda de R$ 817 milhões que inclui o cancelamento da dívida do país com a França, o Itte foi enfático ao dizer que falta de recursos nunca foi o maior problema para o Haiti.
Para ele, o país sente falta de um Estado forte, algo que não tinha nem antes do terremoto.
Sylvain Itte - Eu já havia estado no Haiti duas vezes, como diretor-geral de uma agência de cooperação focada no fortalecimento do Estado e das instituições. Já antes do terremoto o Haiti tinha situação de organização, econômica e política, muito difícil. É um país que já teve de enfrentar muita coisa, inclusive desastres naturais, como furacões. Então, já era uma situação difícil e agora está muito duro de exprimir e apresentar os fatos que as pessoas estão vivendo lá. É bem pior, é bem mais forte do que a gente vê, fotos, imagens não podem mostrar a dimensão da realidade humana que se sente apenas quando a gente está compartilhando a realidade daquelas pessoas. Acho que todos os que foram lá tiveram o mesmo sentimento, eu não diria que é o apocalipse, mas a situação pior que um país conheceu nos tempos modernos fora de uma situação de guerra. A outra coisa que não me surpreendeu, mas me pareceu muito forte é a dignidade das pessoas.
F - R7 :
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