Secretaria da Saúde nega qualquer problema no Hospital do Mandaqui.
Desde 12 de janeiro a rotina da vendedora Ana Carolina Siqueira de Miranda, de 23 anos, é a de passar quase que o dia inteiro em vigília ao lado do filho, Paulo Henrique, que está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal do Hospital do Mandaqui, na Zona Norte de São Paulo. O bebê dela nasceu prematuro, de sete meses, “com pouco peso e problema de respiração”. “Algo normal, por ser prematuro”, resigna-se Ana Carolina.
O drama de verdade de Ana Carolina teve início 48 horas depois do nascimento, quando foi informada pelos médicos que a criança havia pego uma infecção hospitalar. Dez dias após o parto, mesmo internado na UTI neonatal, Paulo Henrique contraiu uma meningite, junto com a infecção. A partir daí o quadro de saúde do bebê só se complicou.
Além da infecção e da meningite, Paulo Henrique também pegou um fungo chamado candidíase. A doença causada por este fungo ataca principalmente a mucosa dos genitais femininos e a boca, mas pode afetar qualquer lugar do corpo. “O médico disse que, no caso dele, o fungo passeia pelo corpo”, conta.
Diante do quadro grave de seu filho, a vendedora começou a perceber uma série de irregularidades no hospital, que acredita terem contribuído para a piora do estado de saúde de Paulo Henrique.
“Percebi que as enfermeiras não davam tanta atenção à higienização antes de entrar na UTI e manipular os bebês. Elas entram sem luvas de proteção e sem avental, o que é estranho por se tratar de uma UTI. E nunca me foi falado que eu teria de usar luva e avental”, diz. O G1 acompanhou Ana Carolina na noite de quinta-feira (11) até a porta da sala que abriga a UTI neonatal e o berçário do hospital e comprovou que ela pode entrar no local sem luvas e avental.
Bactéria
Esta é outra irregularidade do hospital apontada pela vendedora. Segundo ela, a UTI neonatal está ao lado de uma outra sala que abriga o berçário. “As pessoas vêm visitar as crianças que nasceram com saúde e estão no berçário e passam pela UTI neonatal, também sem qualquer tipo de proteção, como avental. Com as obras no hospital, as crianças do berçário foram transferidos de lugar."
Segundo a vendedora, as oito crianças que se encontram na UTI neonatal estão em isolamento porque foram infectadas por uma bactéria muito resistente. “Há duas semanas, vi um senhor da Vigilância Sanitária dizendo que o local não tinha condições de manter as crianças na UTI por causa desta bactéria”, diz.
As denúncias foram confirmadas ao G1 por outra mãe, a auxiliar de doceira Jaqueline Rodrigues Acácio, de 23 anos. O filho dela, Arthur, nasceu prematuro de oito meses, inclusive apresentando falta de oxigênio no cérebro. “Todas as crianças – oito no total – da UTI (neonatal) estão com infecção. Isso foi há uns 20 dias. Os médicos falaram apenas que é uma infecção que dá em berçário”, diz.
Enquanto providências não são tomadas, Ana Carolina assiste transtornada ao drama do filho, que precisará passar por cirurgia para a colocação de um dreno na cabeça. Além disso, depende de uma avaliação de um neurologista, o que até agora não ocorreu. “No dia em que ele apresentou uma melhora, o neurologista não estava no hospital. Depois ele voltou a piorar. É muito triste para uma mãe saber que o seu filho não vai poder levar uma vida normal”, finaliza.
Secretaria nega
A Secretaria Estadual de Saúde, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ao G1 que apenas o filho de Ana Carolina apresenta quadro infeccioso, que não há um surto de meningite no hospital e que todas as crianças recém-nascidas recebem os cuidados necessários no Hospital do Mandaqui. A assessoria confirmou que há oito crianças na UTI neonatal, cada uma com um problema distinto, no entanto.
Além disso, a secretaria informou que o hospital conta com um berçário apenas para receber bebês que apresentem algum problema de saúde ou algum outro tipo de risco e que permaneceriam lá por pouco tempo. Todos os recém-nascidos seguem direto para o quarto no qual a respectiva mãe estava internada, segundo a secretaria.
A assessoria da secretaria disse também que considera descabida a informação de que as enfermeiras e demais funcionários não estão utilizando luvas e avental para manipular os bebês e negou que técnicos da Vigilância Sanitária tenham ido ao hospital e feito qualquer tipo de solicitação. Além disso, confirmou que o hospital está em obras, mas disse que não conseguiu contato com a diretora da instituição para explicar quais as alas mais afetadas.
Sobre os problemas específicos ocorridos com o filho de Ana Carolina, a secretaria alegou que, por "ter nascido prematuro e depois de 18 horas de bolsa rompida", o bebê apresentava "um quadro de maior risco e que sempre inspira mais cuidados".
F -G1 :
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