Pais decidiram solução própria para levar os filhos à escola. A medida causa polêmica na zona rural de Choró
Choró. Uma iniciativa de dois agricultores está dividindo a opinião pública e de autoridades neste município, um dos mais pobres da região Centro do Ceará. Eles resolveram transformar carroças em transporte escolar. Levam em média 12 crianças para a aula todos os dias. O trajeto, das portas de casa para a Escola Infantil e Fundamental Menino Jesus é de 6km. Os passageiros mirins adoram. São moradores do Assentamento Croatá, a 20km da sede deste município. O secretário municipal de Educação, Manoel de Queiroz, desaprova o transporte, é ilegal. O assunto virou polêmica na rádio comunitária local, inclusive com trocas de agressões físicas entre moradores.
As crianças estão na faixa etária de 5 aos 12 anos. São transportadas na carroça pela manhã cedo e no retorno, ao meio-dia. Segundo Francisco Roberto Martins da Silva, proprietário e condutor de uma das carroças, esta foi a alternativa encontrada para evitar o sofrimento dos filhos na caminhada até a escola. Além da distância, o sol é de castigar. Antes, fazia o percurso de motocicleta. Temendo acidentes, resolveu encontrar solução própria.
No princípio, ele começou levando os dois filhos. Logo, os vizinhos começaram a pedir a carona. Quando se deu por conta, já eram mais de 10. O jeito foi adaptar o transporte de tração animal. Instalou bancos e uma coberta para proteger do sol, da chuva e até da poeira. A carroça também foi gradeada. A estrutura evita quedas. A ideia deu certo. Ele mesmo é quem guia. Também se responsabiliza na hora de subir e de descer. Aguarda ao lado da escola enquanto as crianças estudam. Antônio Geraldo da Silva, proprietário da outra carroça, faz o mesmo. Segundo o lavrador, foram investidos R$ 1.600,00 na adaptação. O ônus seria rateado com os assentados, mas a Prefeitura resolveu arcar com as despesas. Ele afirma receber R$ 300,00 mensais pelo serviço. O prefeito, José Antônio Rodrigues Mendes, nega o pagamento. Conforme Dé, como é conhecido o gestor, um vereador ligado à comunidade, "Raimundinho", foi quem assumiu o compromisso financeiro. Até o encerramento desta edição, o parlamentar não havia sido localizado.
Sobre o transporte irregular, o prefeito justificou haver empenho no sentido de atender todos os alunos do município em veículos adequados, todavia, é praticamente impossível dar o suporte a todas as localidades. Uma empresa foi contratada por licitação pública. Realiza rotas por todos os distritos. As duas ramificações de Croatá estão entre poucas onde o ônibus não está chegando. Dé vê as carroças como meio de transporte seguro e útil no Interior. Reconhece os ônibus como mais apropriados para a condução.
Segundo Manoel, 36 rotas são atendidas. Cerca de dois mil alunos são beneficiados. Todos os ônibus são alugados. Mas há interesse em adquirir transportes escolares próprios. Contatos estão sendo mantidos com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc). A Prefeitura pretende aderir ao programa "Caminho da Escola". Pelos cálculos do professor, para conquistar a independência veicular serão necessários 20 micro-ônibus. Não há como adquirir a frota a curto prazo. Cada um deles custa em média R$ 110 mil. O município não possui recursos.
No início do mês, o Governo do Estado doou 100 ônibus para 27 municípios. O incentivo surge quando as prefeituras aderem ao programa "Caminho da Escola", do Governo Federal. A cada transporte escolar adquirido pelo município, tendo como limite cinco unidades, o Estado fornece outro sem qualquer custo. Compromisso apenas para ser utilizado por estudantes do município e do Estado. Para aderir ao programa basta entrar em contato com a Seduc. Ainda existem 147 micro-ônibus.
F - DN:
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